Amália Barros soube conquistar espaço na política nacional

FERNANDO GASPARINI
JORNAL O IMPACTO

Foto: Zeca Ribeiro/Câmara dos Deputados

A manifestação de solidariedade que trouxe a Mogi Mirim uma constelação de autoridades públicas para o funeral de Amália Barros dá uma dimensão da forma como a jornalista e ativista da causa das pessoas monoculares acabou ela própria sendo protagonista do atual momento político brasileiro, marcado por uma profunda divisão, na qual ela jamais se esquivou de assumir a qual dos dois lados iria se posicionar.

Em uma frase lapidar, publicada na terça-feira (14) na página 2 do jornal O Estado de S.Paulo, a deputada estadual Rosana Valle (PL-SP), presidente estadual do PL Mulher, assim definiu o breve período em que Amália emergiu no cenário político brasileiro: “Amália Barros foi a personificação da inclusão, dos direitos dos deficientes e dos valores da direita no Brasil. Deixa saudades, mas também um legado na política”.

A notícia de que uma mogimiriana tinha conseguido a façanha de se eleger deputada federal pelo estado do Mato Grosso caiu como uma bomba na cidade, em outubro do ano passado. Durante a campanha eleitoral, a mãe, Maria Helena, o saudoso pai Albino Peres de Barros e o irmão João Manoel, por motivos óbvios, eram as pessoas mais antenadas na empreitada que a jornalista havia assumido. Parte dos profissionais da imprensa local especulava, com base em evidências inquestionáveis, que Amália tinha chances de se tornar deputada, como acabou ocorrendo.

No início do ano passado, pouco antes de tomar posse de seu mandato parlamentar, acompanhada de Maria Helena, Amália conversou por cerca de uma hora com os jornalistas Flávio Magalhães e Fernando Gasparini, oportunidade em forneceu detalhes de sua aproximação com o poder decisório em Brasília, com apoio incondicional e cumplicidade do esposo, o pecuarista Tiago Boava, com quem foi morar depois de casada na distante Campo Novo do Parecis, cidade a 410 km da capital mato-grossense, Cuiabá.

Amália recordou do período em que, na determinação de transformar em lei o tratamento dado às demais pessoas deficientes a todos os monoculares, como ela própria, frequentou gabinetes dos principais líderes do Congresso Nacional, ganhando o respeito e a cordialidade de muitos destes políticos. A batalha acabou sendo vencida em 2021, com a aprovação da lei de autoria do senador Rogério Carvalho (PT-SE).

A determinação e os métodos de trabalho de Amália não haviam passado despercebidos da então primeira-dama, Michelle Bolsonaro, que manifestou desejo em conhecê-la pessoalmente. A aproximação foi feita, conforme Amália revelaria na conversa com os jornalistas locais, pelo deputado federal Fábio Faria (PP-RN), que foi ministro das Comunicações de Jair Bolsonaro e um dos parlamentares com quem Amália construiu sólida amizade nos tempos de militância pela aprovação do projeto de lei que favoreceu os monoculares.

Relatos de pessoas próximas asseguram que foi “simpatia à primeira vista” esse primeiro contato, que se transformou em uma amizade inquebrantável logo em seguida. A mogimiriana Amália tornara-se amiga e confidente de Michelle.

Consta que durante a eleição de 2022, a ex-primeira dama se empenhou pessoalmente na campanha de apenas três candidatos: seu irmão Eduardo Torres (PL–DF), que não se elegeu; Damares Alves, que se tornou senadora pelo Republicanos do Distrito Federal, e Amália, que assombrou a classe política mato-grossense ao obter 70.240 votos e ocupando uma das oito cadeiras a que o Mato Grosso tem direito na Câmara Federal.

Fiel às suas convicções e dona de um carisma contagiante, Amália em pouco tempo já tinha se aninhado no entorno das lideranças fieis ao ex-presidente Jair Bolsonaro e imediatamente despertou a simpatia nos mais experientes e entusiasmo nos mais jovens, como é o caso do deputado Nikolas Ferreira (PL-MG), recordista de votos em 2022.

Até por isso mesmo, seu falecimento precoce causou uma comoção que de certa forma abalou parte dos meios decisórios, corroborando com a pertinente observação da deputada Rosana Valle a respeito do “furacão Amália”, no sentido de que ela tinha um projeto político pronto para ser colocado em execução, abreviado de forma trágica pela imponderabilidade do destino.

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