Tiago Costa é acusado de ‘ato racista’ durante audiência pública

FLÁVIO MAGALHÃES
JORNAL O IMPACTO

O vereador Tiago Costa (MDB) foi acusado de cometer um “ato racista” e chegou a receber voz de prisão do advogado Paulo Menna Barreto durante uma audiência pública na Câmara Municipal, na noite de quinta-feira (14). Ambos foram ouvidos pela Polícia Civil e liberados em seguida.

A audiência foi convocada pelo próprio Tiago Costa para debater a retirada do Pelourinho, monumento construído em 1969, em frente ao Paço Municipal. O vereador defende que o obelisco é “racista” e sugere a transferência para o Centro Cultural de Mogi Mirim.

Antes da audiência, porém, o parlamentar pendurou um boneco preto no Pelourinho, simbolizando uma pessoa escravizada. Representantes da Associação Cultural Afro Guaçuana (Acag), que foram à Câmara, fizeram duras críticas e exigiram a retirada do boneco. Tiago, porém, se negou. Alegou que o objetivo era justamente provocar e causar reflexão.

“Há uma diferença muito grande entre ser provocativo e ser ofensivo”, enfatizou o advogado Emerson Adagoberto Pinheiro, da Acag. “Você ter colocado um boneco negro lá ofende a população negra de Mogi Mirim e da região”, continuou. “Então o senhor fique à vontade para se retirar, porque o boneco de lá não sai”, rebateu Tiago, que classificou os representantes da associação como “radicais”.

Após a discussão, os representantes da Acag decidiram deixar o plenário da Câmara. Eles foram à Central de Polícia Judiciária (CPJ) de Mogi Guaçu e registraram um boletim de ocorrência.

Já as professoras Tatiane Guedes e Érika Cândido permaneceram na audiência. Houve novos embates, principalmente com Tatiane, que se queixou por ser frequentemente interrompida pelo vereador. Ela também protestou sobre o tratamento dado aos colegas da Acag.”Você foi extremamente arrogante e grosseiro”, disse ao vereador.

Apesar dos embates, a audiência seguiu. Tiago Costa apresentou os argumentos em favor da retirada do Pelourinho, por entender ser ofensivo ao povo preto, e resgatou informações do período da escravidão em Mogi Mirim.

Representando o Cedoch, o pesquisador Valter Polettini defendeu a permanência do monumento. Lembrou que o obelisco foi concebido a partir de uma comissão formada para os festejos dos 200 anos de Mogi Mirim e que o Pelourinho representa, na verdade, a liberdade municipal. “Nenhum escravo foi açoitado ali”, reforçou. “Somos pela preservação dos monumentos históricos, pela preservação da história. Tirar do lugar é o mesmo que passar uma borracha”, disse ainda.

A professora Tatiane também se posicionou contrária à retirada do Pelourinho e voltou a cobrar o vereador sobre o boneco lá afixado. “Quando você vai tirar o seu negro de estimação do Pelourinho?”, questionou. Afirmou que tal ato era uma “representação do branco elitizado pendurando o negro no pelourinho”.

A educadora Érika expressou seu incômodo na sequência. “Foi uma punhalada para mim chegar e ver aquele boneco preto amarrado”, colocou Érika. “Eu entrei aqui tremendo”. Já no final da audiência, Tiago Costa chegou a se desculpar pelo ocorrido. “Prefiro ser criticado pelo pouco que faço do que ser omisso”, justificou.

VOZ DE PRISÃO
Ao final da audiência, o advogado Paulo Menna Barreto chegou à Câmara Municipal. Ele relatou que estava em Campinas, onde passou por exames médicos, mas estava acompanhando a transmissão ao vivo da audiência. “Não posso me calar diante de um ato de racismo que foi praticado usando sacos de lixo para representar o povo preto”, afirmou. Nesse momento, foi interrompido por Tiago Costa, que encerrou a audiência.

Isso originou uma nova discussão e Menna Barreta deu voz de prisão ao vereador. “O senhor me respeite, se cale e eu vou falar o que eu tenho que falar. O senhor está preso em flagrante por um ato racista”, disse o advogado. A Polícia Militar e a Guarda Civil Municipal foram acionadas.

Antes de ir à delegacia, Tiago Costa retirou o boneco do Pelourinho. Enquanto discursava, foi chamado de racista por um dos presentes no local. Vereadores, assessores e familiares de Tiago também estavam ali naquele momento.

Na Central de Polícia Judiciária de Mogi Guaçu, Tiago Costa e Menna Barreto foram ouvidos pelo delegado de plantão, Rubens Fonseca Melo. Ambos foram liberados, uma vez que, segundo a autoridade policial, não foi possível verificar “dolo de racismo” acerca do caso. “Diante do exposto, se faz necessária uma análise mais detida dos elementos, a fim de se verificar eventuais indícios de crime”, considerou o delegado.

DESCULPAS
O presidente da Câmara Municipal, Dirceu Paulino (SD), passou a acompanhar o desenrolar dos fatos a partir do momento em que a polícia foi acionada. Ele também esteve na delegacia e se desculpou, em nome do Poder Legislativo, com as professoras Tatiane e Érika. Na tarde de ontem (15), a Câmara Municipal emitiu uma nota oficial, em que afirma que “está analisando os últimos acontecimentos e tomará as medidas cabíveis”.

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