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Idosa dorme há 6 meses em ponto de ônibus na Vila Dias, em Mogi Mirim

JORNAL O IMPACTO
Foto: O IMPACTO

A aposentada Joana D’Arc dos Santos, que diz ter 78 anos, está há aproximadamente seis meses utilizando um ponto de ônibus na parte alta da Rua Argentina, na Vila Dias, como abrigo e moradia.

Ela dorme em um colchonete sobre o banco de cimento. Ali mesmo, também depositou seus pertences. A situação ganhou traços mais dramáticos nesta semana, com a queda brusca de temperatura. O IMPACTO conversou com dona Joana pela primeira vez na tarde da quarta-feira (27), antes da mudança do tempo.

Ela disse que não tinha familiares e nem para onde ir, por isso decidiu ocupar o ponto de ônibus. “Sou filha única, não tenho parentes”, assegurou. Quando alertada de que uma frente fria estava chegando com promessa de grande queda de temperatura, disse que tinha conversado com um casal de amigos “que moram perto da linha do trem” e que iria pedir para dormir na casa deles.

A reportagem passou no ponto na madrugada seguinte e também ontem, sexta-feira (30), dia em que os alguns serviços meteorológicos chegaram a estimar a temperatura mínima de 6°C em Mogi Mirim. Ela, sem reclamar, disse que tinha aguentado bem o frio. Perguntada se iria aceitar ajuda para ficar na Casa de Passagem (o antigo albergue noturno, localizado no bairro do Mirante), dona Joana afirmou que não. Ao ser questionada, disse ainda que recebe aposentadoria.

A comerciante Adriana Castro, dona do Sacolão da Dri, localizado bem em frente ao ponto de ônibus, confirmou que dona Joana está ali há pelo menos seis meses. Adriana, assim como outras pessoas que passam pelo local, ajudam como podem. “Até banho eu já dei nela”, disse a comerciante. Existem também os que ajudam a alimentá-la. Quando O IMPACTO conversou com a idosa na quarta-feira, ela reclamou de fome. Contou que tem dificuldade em ingerir qualquer tipo de alimento por causa da dentição já inexistente.

A assistente social Ana Carolina Zavarize, gerente de proteção especial da Secretaria de Assistência Social de Mogi Mirim, fez algumas ressalvas sobre as ações de acolhimento por parte da população, apontando que esse tipo de ajuda pode encorajar dona Joana a não querer deixar sua moradia improvisada.

Ana Carolina informou que a secretaria tem conduzido diversas ações para encontrar uma saída, mas que sempre esbarra na resistência da idosa em aceitar ajuda. “Ela permaneceu um curto espaço de tempo na Casa de Passagem. Teve um comportamento inadequado e fez de tudo para voltar para a rua. Nós não podemos impedir, sob o ponto de vista legal, a vontade dela”, esclareceu Ana Carolina.

Ao constatar que a resistência de dona Joana seria algo difícil de ser contornado, a secretária municipal de Assistência Social, Cristina Puls, determinou que o caso fosse levado ao Ministério Público (MP), para que seja requerido junto ao Judiciário uma medida protetiva que autoriza uma internação compulsória em alguma casa de acolhimento que mantenha convênio com a Prefeitura. A pasta não informou desde quando nem de que forma a Promotoria foi acionada.

Uma fonte familiarizada com o assunto e consultada por O IMPACTO calcula que o pedido de análise do caso foi feito há cerca de 30 dias. Sob condição de anonimato, disse ainda que as autoridades locais têm se esforçado para resolver a situação com base no que a legislação permite, esbarrando sempre na falta de colaboração da idosa. “A mim, parece que ela alterna momentos de lucidez com rompantes de demência”, ponderou.

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