Escola Monsenhor Nora chega aos 80 anos em meio a incertezas sobre o futuro

FLÁVIO MAGALHÃES
JORNAL O IMPACTO
A Escola Estadual Monsenhor Nora chega aos 80 anos de existência em meio a incertezas sobre o seu futuro. A possibilidade de transferência da sede da Diretoria Regional de Ensino (atualmente chamada de Unidade Regional de Ensino) para o prédio do colégio provocou reações na sociedade e conjecturas sobre um eventual fechamento da unidade.
Os primeiros protestos vieram pelas redes sociais, de ex-docentes ligados à escola que souberam da possível transferência da Diretoria de Ensino para o prédio da Monsenhor Nora. Rapidamente, autoridades locais começaram a manifestar de maneira contrária à proposta.
O presidente da Câmara Municipal, Cristiano Gaioto (PDT), e o vereador Cinoê Duzo relataram que estiveram na sede da Diretoria de Ensino e que foram recebidos pela dirigente Edna Regina Gallano de Campos, que teria confirmado o interesse do Estado de São Paulo em realizar tal transferência.
“Eu trabalhei na Educação [de Mogi Mirim] por seis anos. Eu não vejo possibilidade alguma de uma Diretoria de Ensino dividir um prédio com uma escola. Não pode. Que secretaria de educação de qual município está dentro de uma escola?”, questionou Gaioto. “Entendemos que não vai fechar a escola, mas isso vai fazer com que a escola se feche”, avaliou.
“Não houve uma discussão, um diálogo franco e aberto com toda a sociedade”, criticou Ernani Gragnanello (PT), autor de uma moção de repúdio à pretensão de fechamento da unidade. “Defendemos a tese de que o Monsenhor Nora é nosso, é da comunidade, e deve prevalecer, e não ser utilizado para outra utilidade que não seja o conhecimento, a educação”, frisou.
A subseção local da Apeoesp (Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo) também tem se movimentado. Os professores Emanuel Duarte, representando a Apeoesp, e Jorge Paulo Neto, vice-presidente municipal do PT, participaram de uma reunião com o secretário executivo de Educação de São Paulo, Vinicius Mendonça Neiva, intermediada pela deputada estadual Professora Bebel (PT). Relataram que foi confirmada a intenção de mudança da Diretoria de Ensino para a Monsenhor Nora, mas que um eventual fechamento do colégio foi rechaçado.

A Unidade Regional de Ensino está localizada na Avenida Santo Antônio, 248, desde 1983. O prédio é considerado pequeno para as atividades desempenhadas pelo departamento e sofre com os alagamentos do Córrego Santo Antônio. O local é considerado precário. Desde 1988, há pedidos para reforma e ampliação do prédio e, há pelo menos 15 anos, é cogitada a saída da sede atual.
Em 2021, a Câmara Municipal aprovou projeto de lei do prefeito Paulo Silva (MDB) para doação de um terreno ao Governo do Estado de São Paulo, com o objetivo de se construir uma nova sede para a Diretoria de Ensino. O espaço era uma área institucional do Residencial dos Jequitibás, na Rodovia Nagib Chaib, entre Mogi Mirim e Mogi Guaçu.
O IMPACTO apurou que a construção ficaria em R$ 13 milhões e acabou abortada pelo governo paulista. Houve, então, uma procura por imóveis para locação. Com valores na casa dos R$ 50 mil, essa hipótese também foi descartada. Foi quando surgiu a possibilidade de transferência para um prédio próprio da Educação: a escola Monsenhor Nora.
Em contato por telefone com a redação de O IMPACTO, a Assessoria de Imprensa da Secretaria de Estado da Educação afirmou que a Monsenhor Nora não será fechada “sob hipótese alguma”. Também garantiu que ainda não há um posicionamento definitivo sobre a transferência da Unidade Regional de Ensino e que a proposta de mudança para a escola foi proposta pela Prefeitura de Mogi Mirim. Informou ainda que uma eventual mudança não seria imediata, mas, sim, somente para o final de 2026.
A reportagem de O IMPACTO também procurou o prefeito Paulo Silva sobre o assunto. “Quanto à doação da área e à procura de imóveis para locação, a Prefeitura participou junto com a Diretoria de Ensino. Quanto à mudança da Diretoria de Ensino para o prédio do Monsenhor Nora, não temos nada a ver com isto”, garantiu, rebatendo uma das informações prestadas pela Secretaria de Educação de São Paulo.
O prefeito, porém, lembrou que o número de alunos matriculados na rede de ensino vem caindo a cada ano devido à queda da natalidade, um fato comum em todo o estado. “A ampliação do ensino integral vem ocupando melhor os prédios escolares estaduais, mas não tem sido suficiente para reduzir a ociosidade”, avaliou. “Tenho certeza que o Governo Estadual, junto com seus técnicos, saberá encontrar a melhor solução”, completou.
80 anos
A instituição foi criada pelo decreto-lei 15.174, de 24 de outubro de 1945, pelo governador Fernando de Sousa Costa, interventor federal do Estado de São Paulo indicado pelo então presidente Getúlio Vargas. O colégio receberia o nome de Monsenhor Nora apenas em 1952.
A princípio, enquanto não tinha prédio próprio, o então ginásio estadual funcionava na antiga Escola de Comércio de Mogi Mirim, localizado onde hoje funciona a Faculdade Santa Lúcia, na parte baixa da Rua Ulhôa Cintra. A aula inaugural ocorreu no Teatro São José, em 15 de março de 1946, com a palestra do advogado mogimiriano Luís Antônio da Gama e Silva, que, mais tarde, viria a ser reitor da USP (Universidade de São Paulo) e ministro da Justiça do presidente Costa e Silva, durante o regime militar.
O prédio onde a escola funciona até hoje começou a ser utilizado em 1958. De lá para cá, sofreu algumas ampliações e adaptações.

Ao longo das décadas, a Monsenhor Nora consolidou-se como referência em ensino de qualidade, reconhecida pelo empenho de seu corpo docente e diretores. Diversas gerações de mogimirianos tiveram ali o incentivo essencial para a formação pessoal e profissional.
Atualmente com cerca de 370 alunos, segundo o Portal da Transparência da Secretaria de Educação de São Paulo, o Monsenhor Nora conta com ampla estrutura, incluindo laboratórios de Biologia, Física, Informática, Química, sala de música, salas de leitura, anfiteatro, cantina, cozinha, refeitório, quadra coberta e quadra descoberta. Também é sede da Univesp (Universidade Virtual do Estado de São Paulo) em Mogi Mirim.