Editorial: Quando a fé vira alvo
OPINIÃO DO JORNAL O IMPACTO
A tentativa de homicídio registrada em Mogi Mirim na última quarta-feira (12), segundo todos os indícios levam a crer, é parte de um quadro maior: a intolerância religiosa que se esconde atrás de muros de vizinhança, disfarçados por discursos hipócritas de convivência pacífica. O caso é brutal por si só, mas torna-se ainda mais perturbador quando revela que o ataque teria sido motivado por ódio à religião da vítima, uma mulher umbandista que viu sua fé ser transformada em justificativa para violência.
É preciso ressaltar que um crime como esse não nasce do nada: ele é alimentado dia após dia por discursos enviesados, por desinformação, por preconceitos travestidos de opinião e por uma permissividade social que ainda trata religiões de matriz africana como inimigas, e não como parte legítima do tecido cultural brasileiro.
Há décadas se repete um discurso de que o Brasil é um país plural e tolerante, mas a realidade insiste em desmentir esse mito. Basta perguntar aos fiéis que vivem sob ameaça, aos terreiros incendiados, aos pais e mães de santo agredidos, às crianças hostilizadas nas escolas país afora.
Evidente que esse caso em particular está nas mãos da Justiça, mas a esfera jurídica, sozinha, jamais será suficiente. Prender os autores do crime é necessário, mas não elimina a raiz do problema. É preciso encarar a intolerância religiosa como o que ela é: um tipo de violência que corrói o direito fundamental à liberdade de crença e coloca vidas em risco.
Enquanto isso não ocorre, a vítima seguirá tentando se recuperar não apenas das perfurações pelo corpo, mas também do trauma de saber que, para alguns, sua forma de professar a fé é motivo para ser eliminada.



