Editorial: A brutalidade virou rotina
OPINIÃO DO JORNAL O IMPACTO
É estarrecedor que, em um período de um mês, O IMPACTO se sinta na obrigação de abordar neste espaço o mesmo tema pela segunda vez: a violência contra a mulher. Mas não há como ignorar o que aconteceu na capital paulista nos últimos dias. Duas vidas despedaçadas em plena luz do dia na maior cidade do país.
Uma mulher atropelada e arrastada por um quilômetro, tendo suas pernas literalmente dilaceradas. Outra, alvejada em seu local de trabalho por duas armas ao mesmo tempo. São casos que foram além da tentativa de feminicídio. São crimes com requintes de crueldade, de uma brutalidade que deveria parar o país. Infelizmente, acabarão engolidas pelo fluxo interminável de “novos casos”.
Enquanto a fórmula para se combater a violência contra a mulher for apenas reativa e punitivista (o que é muito importante, mas insuficiente), a sociedade continuará contando corpos. Ou o que restarem deles. A prisão do agressor é uma óbvia medida de urgência e de justiça, mas é também um atestado de fracasso na prevenção.
A crueldade cada vez mais comum nesse tipo de crime é a face mais visível de uma misoginia estrutural que tolera, em graus variados, o controle e a posse sobre a vida e o corpo da mulher.
Combater a violência exige ir à raiz: educação nas escolas, efetividade das medidas protetivas, mudança cultural e, sobretudo, é entender que o feminicídio é um crime que acontece quando um homem decide que tem o direito de extinguir a existência de uma mulher por ela ousar existir fora do seu domínio.



