Festival de Verão
Coluna │ Thiago Henrique: Os melhores livros de 2025

Todos os anos, milhares de brasileiros, como eu, fazem uma lista de metas e desejos para o ano que se inicia. Eu faço isso e, ainda por cima, renovo essa lista a cada seis meses. Afinal, não posso deixá-la para dezembro e me frustrar com várias coisas que desejei e não cumpri. Portanto, renovo-a para que ela saiba que estou aqui, tentando, sim, tentando voltar a treinar, a correr, a ser mais saudável, a emagrecer e tudo o mais.

Porém, como minha vida é um círculo entre trabalhar, ler, escrever e pesquisar, nos últimos anos venho traindo a academia, o treino e o emagrecimento. Mas há uma traição que não cometo: a de ler menos do que gostaria. “Quero ler mais de 20 livros”. Bom, essa promessa eu sempre cumpro. Ano após ano ultrapasso a meta estabelecida. Na segunda-feira decidi reunir todos os livros que li neste ano. Coloquei tudo em cima da mesa do escritório, eram vários, e a maioria era de biografias. Como faço todos os anos, escolhi os melhores desse monte.

O primeiro é “King: Uma vida”, vencedor do Prêmio Pulitzer. É a mais nova biografia do ativista Martin Luther King Jr. Tenho outras biografias dele, inclusive uma autobiografia, porém esta, escrita por Jonathan Eig, superou todas. Enquanto lia, tive a impressão de estar diante de um texto bíblico e, ao mesmo tempo, do retrato de um homem insistente, corajoso e que pagou com a vida. Morreu acreditando em um ideal. (Os capítulos finais, sobre sua morte e o que veio depois, são de arrepiar).

Depois vem “Gilead”, de Marilynne Robinson, também ganhador do Pulitzer. Descobri esse livro lendo uma coluna na Folha de S.Paulo. Em resumo, trata-se da história de um pai que sabe que vai morrer e, tendo um filho de oito anos, decide escrever-lhe uma carta. Ali, fala de Deus, aconselha o menino, traça metas e sonhos que não verá o filho realizar.

“Trincheira Tropical”, de Ruy Castro, é o terceiro. Bom, Ruy é minha maior inspiração; falar dele é suspeito para quem o admira e o coloca em um pedestal. O livro retrata o Rio de Janeiro durante à Segunda Guerra Mundial: como os cariocas viviam, o que ouviam, o que liam, onde frequentavam enquanto o mundo ardia em conflito.

Também de Ruy Castro está “O Ouvidor do Brasil”, eleito o melhor livro de 2024. São 99 crônicas e histórias sobre Tom Jobim, um mergulho delicioso na vida, na música e na personalidade desse gigante. E, por fim, “Maria Bonita”, de Adriana Negreiros. Essa biografia foi um tapa na minha cara sobre o conceito que eu tinha do cangaço e de Lampião. A esposa de Lampião não foi uma mulher à frente do seu tempo, como muitos acreditam. Viveu sob o temor e o domínio de um homem astuto. Quando terminei a leitura, pensei: Lampião era a maldade em forma de gente. O livro é pesado!

Fecho o ano como quem fecha um livro: com a sensação de que virei páginas importantes. Talvez eu siga traindo a academia, talvez não cumpra todas as metas, talvez volte a prometer o que já sei que não farei. Mas, se há algo que aprendi folheando tantas vidas, é que a gente só precisa ser fiel a uma coisa: àquilo que nos move.

Thiago Henrique é pesquisador e historiador