Às vésperas de completar um mês, ocupação em Vergel ganha força
FERNANDO GASPARINI
JORNAL O IMPACTO
Às vésperas de completar um mês de ocupação, o acampamento instalado ao lado do Assentamento 12 de Outubro, em Vergel, ganhou força e já reúne cerca de 120 famílias. As lideranças do grupo sem-terra também estão confiantes na reversão da decisão judicial que determinou a desocupação do local.
A 4ª Vara da Comarca de Mogi Mirim determinou 15 dias corridos para uma desocupação espontânea da área, após a Fundação Itesp (órgão do Governo de São Paulo responsável pelo planejamento e execução das políticas agrária e fundiária do estado) questionar a ocupação na Justiça. Também foi autorizado o uso de força policial caso o prazo não seja respeitado.
Segundo Carlos Caíque de Araújo, que integra os quadros da Frente Nacional de Luta Campo e Cidade (FNL) e é uma das lideranças do movimento de ocupação, ele próprio e outras 39 pessoas receberam a intimação judicial no dia 31 de agosto. “Não havia intimações em número suficiente para todas as famílias acampadas”, ironizou.
Conforme sua versão, as pessoas que estão cuidando da defesa do movimento na esfera judicial protocolaram uma contestação dos argumentos utilizados pela Fundação Itesp para requerer a área ocupada. “Enquanto não é apreciado o mérito da contestação, o prazo de desocupação dado anteriormente não corre”, garantiu Caíque.
Ainda assim, disse que visitou a sede da 2ª Cia. de Polícia Militar de Mogi Mirim, para conversar com o comando e se apresentar. “Conversamos a respeito dos procedimentos que são adotados em caso do cumprimento da ordem”, revelou.
O processo de ocupação completa na próxima terça-feira (12) um mês, com a impressão de que vem ganhando consistência e notoriedade. As lideranças do movimento têm usado as redes sociais para divulgar relatos de como é a rotina do acampamento, com o objetivo de sensibilizar a sociedade com relação à legitimidade do movimento.
O IMPACTO acompanhou de perto a visita feita na manhã de quarta-feira (6), véspera de feriado, pela vereadora Mariana Conti, do PSOL de Campinas, que foi, conforme declarou, levar sua solidariedade às famílias acampadas. “Trata-se de uma luta legítima pelo acesso à terra”, declarou.
Afirmou ainda que o fato de o movimento ocorrer em uma cidade da região de Campinas reforçou sua disposição em conhecer pessoalmente a realidade destas pessoas. Respondendo um questionamento feito pela reportagem, ela reconhece que a estratégia de dar maior visibilidade ao que está ocorrendo em Mogi Mirim ajuda a chamar a atenção das autoridades.
ROTINA
Muitas das pessoas que acampam no local têm parentes que foram beneficiados na partilha do Assentamento 12 de Outubro, no final do anos 1990. É o caso de Evalnir Ferreira de Souza, carvoeiro de profissão. Ele conta que deixou Conchal para trabalhar na propriedade do irmão e que, ao saber da movimentação para a ocupação da área, não pensou duas vezes em aderir. Ele exibiu, além da barraca onde dorme, o fogão de taipa que construiu, além de um cercado para “tomar banho de canequinha” e até um outro com um assento sanitário. “É assim que nós nos viramos”, pontuou.
O IMPACTO quis saber de um grupo de mulheres se as crianças estão frequentando a escola. Uma delas, que se identificou como Tânia, disse que o maior problema tem sido a recusa, segundo ela, do transporte escolar que serve aquela região em levar as crianças para as escolas de Mogi Mirim. “Temos levado as crianças até um ponto mais distante”, relatou. Lideranças do movimento afirmaram que os transportadores exigem o registro destas crianças em sua relação, algo que não ocorre devido ao fato da maior parte ter origem em outras regiões do município, quando não em cidades vizinhas.
INDÍGENAS
Também estava no acampamento a pedagoga e estudante de Ciências Sociais Marcela Pankararu. Ela contou que em Mogi Mirim existem pelo menos 50 famílias indígenas, das quais pelo menos metade, segundo ela, apoia o movimento deflagrado em Vergel, com a expectativa de também serem contemplados com a criação de um eventual projeto de reforma agrária no local. Disse ainda que a outra metade participa em Brasília (DF) das manifestações contra o marco temporal das terras indígenas.
Para as lideranças do movimento, a presença indígena torna mais complexa a queda de braço com as autoridades estaduais, uma vez que, segundo o raciocínio reinante no movimento, a presença desses indígenas no local só pode ser resolvida com a participação da Funai. Marcela disse que existe a previsão do deslocamento de alguma autoridade do órgão do governo federal, ainda na próxima semana, para examinar de perto a situação.